Intercâmbio urológico internacional - Universidade da Pensivânia, EUA
- Rodrigo Lolli Almeida Salles
- há 7 horas
- 6 min de leitura
Programa: Intercâmbio Internaciona em Urologia – Parceria AUA / SBU
Instituição anfitriã: University of Pennsylvania – Department of Urology
O Programa de Intercâmbio Internacional ou International Exchange Program promove a troca de conhecimento médico e propicia conexão entre urologistas há mais de uma década. Todos os anos, são selecionados médicos urologistas dos Estados Unidos para visitarem serviços hospitalares de excelência no Brasil e médicos urologistas brasileiros para fazerem o mesmo na América do Norte. Em 2024, o Dr. Rodrigo Lolli foi selecionado e, em abril de 2025, visitou o Departamento de Urologia da Universidade da Pensilvânia e participou do Congresso Americano de Urologia. Faço a seguir um resumo do que foi essa experiência.
Atividades Desenvolvidas
Durante o período de intercâmbio, tive a oportunidade de acompanhar de forma intensiva o serviço de urologia do Hospital da Universidade da Pensilvânia, reconhecido internacionalmente por sua excelência acadêmica e assistencial. As principais atividades incluíram:
Participação ativa em cirurgias complexas de uro-oncologia, incluindo prostatectomias robóticas, nefrectomias parciais e totais, e cistectomias;
Discussões clínicas e participação em reuniões multidisciplinares de casos oncológicos, lá chamados de Grand Rounds;
Observação de fluxos de atendimento e protocolos clínicos;
Interação com diversos profissionais, promovendo rica troca de conhecimento técnico e científico.
A Universidade e o Hospital Universitário
A Universidade da Pensilvânia (UPenn) é uma das nove faculdades coloniais e foi fundada antes da Declaração de Independência dos EUA, quando Benjamin Franklin, fundador e primeiro presidente da universidade, defendeu uma instituição educacional que formasse líderes nas áreas acadêmica, comercial e de serviço público, em 1740.
A Escola de Medicina Perelman (comumente conhecida como Penn Med) é a faculdade de medicina da Universidade da Pensilvânia e a mais antiga dos Estados Unidos. Hoje, a Escola de Medicina Perelman é um importante centro de pesquisa e educação biomédica, com mais de 2.900 docentes e quase US$ 1 bilhão em prêmios anuais por programas patrocinados.
O hospital foi fundado em 11 de maio de 1751 por Benjamin Franklin e Thomas Bond, e foi o segundo hospital público estabelecido (o primeiro foi o Bellevue), mas teve o primeiro anfiteatro cirúrgico dos Estados Unidos e sua primeira biblioteca médica. Faz parte do Sistema de Saúde da Universidade da Pensilvânia. Em 2001, o Hospital da Pensilvânia comemorou seu 250º aniversário.
A faculdade de medicina da Universidade da Pensilvânia foi a primeira faculdade de medicina estabelecida na América do Norte, fundada em 1765
Benefícios Profissionais e Pessoais
O intercâmbio proporcionou um expressivo enriquecimento profissional, ampliando minha visão sobre a prática urológica em centros de excelência. A vivência com técnicas cirúrgicas avançadas, protocolos modernos e organização hospitalar de alto nível teve impacto direto na minha prática médica.
Além disso, a experiência internacional fortaleceu minhas habilidades de comunicação, networking profissional e trouxe grande motivação pessoal. O contato com diferentes culturas e práticas médicas
contribuiu para o meu crescimento humano e empatia no cuidado com os pacientes.
Sou grato à American Urological Association, à Sociedade Brasileira de Urologia e à empresa Teleflex por esta oportunidade transformadora.
O intercâmbio internacional foi um divisor de águas na minha carreira profissional
O museu Mütter
O museu faz parte do Colégio de Médicos da Filadélfia. Abriga uma coleção de espécimes anatômicos e patológicos, modelos de cera e equipamentos médicos antigos. O objetivo original do museu, fundado com uma doação do Dr. Thomas Dent Mütter em 11 de dezembro de 1858, era a educação de profissionais médicos, estudantes de medicina e convidados dos membros do Colégio, e só foi aberto a não membros em meados da década de 1970.
Espécimes esqueléticos
O Museu Mütter abriga mais de 3.000 espécimes osteológicos, incluindo vários esqueletos completos. Um dos mais famosos é o esqueleto totalmente articulado de Harry Raymond Eastlack, que sofria de fibrodisplasia ossificante progressiva.
Outros espécimes osteológicos incluem:
O Gigante Americano de Mütter, o esqueleto humano mais alto em exposição na América do Norte, com 229 cm de altura.
A Coleção de Crânios Hyrtl, uma coleção de 139 crânios de Josef Hyrtl, um anatomista austríaco. O objetivo original desta coleção era mostrar a diversidade da anatomia craniana em europeus, refutando assim a ciência
racial da frenologia.
O esqueleto de Mary Ashberry, uma mulher com acondroplasia que morreu em 1856 devido a negligência médica durante o parto.
Espécimes Úmidos
A Coleção Mütter compreende quase 1.500 espécimes frescos adquiridos entre os séculos XIX e XXI. Estes incluem espécimes teratológicos, cistos, tumores e outras patologias de quase todos os órgãos do corpo.
Estes incluem:
O coração de Robert Pendarvis, um doador vivo com acromegalia
Espécimes intestinais coletados durante o surto de cólera de 1849 pelo Dr. John Neill, curador do que era então conhecido como Gabinete de Patologia do Colégio de Médicos da Filadélfia
Pele tatuada do século XIX e início do século XX
Modelos de cera
Complementando os espécimes humanos reais em exposição, encontram-se inúmeros modelos de cera exibindo diversos exemplos de patologias no corpo humano. Esses modelos, produzidos principalmente por Tramond, de Paris, e Joseph Towne, de Londres, eram usados para fins educacionais quando cadáveres eram difíceis de obter e preservar. Sabe-se que algumas moulages utilizaram restos de esqueletos como parte de sua construção. Um dos modelos de cera mais famosos em exposição no Museu Mütter é o último modelo remanescente conhecido de Madame Dimanche, que possuía um "chifre humano (chifre cutâneo). Removido com sucesso após seis anos de crescimento de Madame Dimanche, uma viúva parisiense, no início do século XIX. Da coleção original do Dr. Thomas Dent Mütter (1811-1859)".
Outros espécimes
O acervo do museu também inclui:
Um tumor maligno removido do palato duro do Presidente Grover Cleveland
O molde de fígado símio e torso de gesso dos gêmeos siameses tailandês-americanos Chang e Eng Bunker
Um pedaço de tecido torácico removido de John Wilkes Booth, o assassino do Presidente Abraham Lincoln
Uma seção do cérebro de Charles J. Guiteau, o assassino do Presidente James A. Garfield
A Coleção de Corpos Estranhos Chevalier Jackson, uma coleção de 2.374 objetos ingeridos ou inalados que o Dr. Jackson extraiu da garganta, esôfago e pulmões de pacientes durante seus quase 75 anos de carreira. A maioria dos itens está em exposição.
Metade do cérebro de Albert Einstein
10 crânios e 5 crânios com extenso envolvimento sifilítico, muitos dos quais são espécimes da doação original de Mütter.
Observação: o texto da coleção do museu foi extraído da Wikipédia
Cirurgia Robótica
Pude acompanhar inúmeras cirurgias robóticas incluindo prostatectomias radicais, nefrectomias parciais e pieloplastia. Aqui alguns pontos específicos de aprendizado:
Prostatectomia radical robótica pela técnica de Montsourri, em que o peritônio é aberto no recesso retrovesical para dissecção das vesículas seminais e dúctos deferentes e para dissecção do plano retroprostático. Após isso, a bexiga é liberada da parede abdominal e a cirurgia prossegue anteriormente. Foi muito interessante aprender esse acesso que pode ser extremamente facilitador para o começo da curva de aprendizado na prostatectomia robótica
Prostatectomia radical Retzius-Sparing, em que toda a cirurgia é realizada em acesso retrovesical, e que confere excelente resultados pós-operatórios no que se refere à continência precoce
Prostatectomia radical robótica single-port extraperitoneal
Nefrectomia parcial com aplicação de ultrassonografia transoperatória
Nefrectomia total robótica doadora para transplante renal
Pieloplastia robótica extraperitoneal
Cirurgia convencional
Cistectomia com conduto ileal
Cistectomia com neobexiga a Studer modificado
A biblioteca original
Em 1762, o primeiro livro para a biblioteca médica do hospital foi doado por John Fothergill, um amigo britânico de Franklin. Em 1847, a Associação Médica Americana designou a biblioteca como a primeira, maior e mais importante biblioteca médica dos Estados Unidos. Naquele ano, em 1847, a biblioteca continha cerca de 9.000 volumes. O acervo agora contém mais de 13.000 volumes que datam do século XV — incluindo volumes médicos e científicos, bem como livros sobre história natural. A biblioteca inclui a coleção mais completa do país de livros médicos publicados entre 1750 e 1850. O acervo também contém vários incunábulos, livros escritos antes de 1501, quando o processo de impressão foi inventado.
Para mais informações históricas sobre a biblioteca, explore a Linha do Tempo Histórica.

O antigo anfiteatro cirúrgico
O Pennsylvania Hospital abriga o anfiteatro cirúrgico mais antigo existente dos Estados Unidos, construído em 1804.
Essa sala era usada para procedimentos cirúrgicos no século XIX, preservada até hoje para visitação dentro do Pennsylvania Hospital. As cirurgias ali eram realizadas entre 11h e 14h de dias ensolarados para utilização de iluminação natural advinda do domo superior de vidro translúcido, pois não havia eletricidade na época. O anfiteatro acomodava até 300 estudantes e cirurgiões para acompanhar o procedimento.
Uma cirurgia famosa realizada ali foi a remoção de um tumor de glândula parótida da face de um paciente. O tumor pesava aprox. 5 kg e está preservado em formol e exposto dentro da biblioteca do hospital.

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